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Da Imaginação à Realidade: D. Dinis

Da Imaginação à Realidade: D. Dinis

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Vamos pôr a imaginação a funcionar... como seriam as casas de alguns dos antigos monarcas portugueses, hoje em dia?

Criado por: Ricardo Santos Silva em 01 / 06 / 2021

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Os filmes nascem da imaginação, figura metafórica que tanto faz pelo ser humano, uma personagem ganha contornos na imaginação do seu criador e só depois ganha vida no papel do guião e de seguida na rodagem ou desenho de um filme. Trazemos ao Filmes e Cenas uma série de artigos que nos propõem imaginar. Vamos imaginar como seriam as casas de alguns dos antigos monarcas do nosso país.




Ambientalista e culto, D. Dinis seria um hippie-chic do século 21. E esta seria a sua casa


Assim que se ouve o nome do rei D. Dinis, a primeira coisa que vem à cabeça é o Pinhal de Leiria. E pode estar aí um dos grandes mitos sobre a monarquia portuguesa, que o historiador João Ferreira tenta desmistificar: “O Pinhal de Leiria não foi mandado plantar por ele, já era muito antigo e fazia parte do tecido florestal português.” Então de onde vem o mito? “A madeira era o combustível daquela época, servia para construir, para aquecer, para tudo”, explica o historiador. E é no tempo de D. Dinis que o Pinhal de Leiria substitui o pinheiro manso pelo pinheiro bravo, mais resistente, e mais próximo do que hoje conhecemos (pelo menos, até aos grandes incêndios que assolaram o país nas últimas décadas). Há, portanto, “um fundo de verdade nessa história” da associação entre o Pinhal de Leiria e este rei. Gostaria de ver imóveis perto do pinhal de Leiria? Veja aqui.


Ao tentar imaginar como seria a casa de D. Dinis no século XXI, falámos com o investigador João Ferreira, autor de obras como a “Histórias Rocambolescas da História de Portugal”, para uma série de quatro artigos, feita em parceria com o Imovirtual, que inclui, por isso, mais três monarcas: D. Afonso Henriques, D. João V e D. Maria II. Este é, por ordem cronológica, o segundo artigo da série que, a partir da personalidade e dos reinados de cada um destes reis, permite imaginar casas, roupas e objetos decorativos que estes monarcas gostariam de ter se tivessem o século XXI à disposição.


E se eles têm à sua volta um historial de lendas, a de D. Dinis e do Pinhal de Leiria é das mais fortes, porque foi aproveitada pela historiografia do Estado Novo, de Oliveira Salazar, para construir a narrativa de que a madeira que saía do Pinhal era pensada para construir as naus e caravelas que os navegadores portugueses haveriam de usar nos Descobrimentos. “É uma imagem poética que tem um problema: não foi verdade”, conta João Ferreira.


Não foi bem a mesma madeira, mas é inegável que D. Dinis era um entusiasta dos pinhais, da agricultura, e alguém tentou sempre fixar populações no interior do país — uma questão que ainda hoje nos ocupa os dias e as preocupações. “Havia uma preocupação de valorizar os terrenos”, lembra o historiador, e isso tinha dois motivos: por um lado, a vocação do próprio rei, e por outro o facto de ter sido o primeiro a não ter de se meter em todas as batalhas para expandir o território. Isso ficou para o pai, avós, bisavós, e até para o trisavô, o primeiro rei dessa série de Portugal, D. Afonso Henriques. As guerras do tempo de D. Dinis foram mais para fixar fronteiras. As suas preocupações foram sempre outras, daí o cognome “O Lavrador”.


Agostinho da Silva, um dos filósofos mais relevantes do século 20 português, escreveu que D. Dinis “andava pelo país, de concelho em concelho”, sempre nessa senda de valorizar o território — não é estranho que o rei tenha concedido tantos forais, que significavam a criação de novos concelhos.


Mas do reinado de D. Dinis não podemos subestimar uma das criações mais relevantes da história de Portugal: a Universidade de Coimbra, uma das mais antigas do mundo. Isto mostra a importância que Dinis sempre deu à cultura, e foi “um sinal importante de que Portugal queria estar a par com os outros reinos cristãos da Europa”, como nota João Ferreira. Em 1290, quando a Universidade nasceu, ainda se chamava Estudo Geral, e tinha sede em Lisboa, onde hoje fica o Largo do Carmo, tornando-se assim contemporânea de universidades de enorme relevo, como a de Oxford, em Inglaterra, praticamente da mesma altura, ou a Sorbonne, em Paris, um pouco mais antiga.


Só passados 18 anos é que as instalações foram definitivamente mudadas para Coimbra. Mas a ligação entre D. Dinis e Coimbra é eterna. E é por isso que se ele tivesse nascido no século 20, seria hoje reitor da Universidade, um homem que cruzaria o amor pela agricultura com o amor pelas letras, pelos alunos, como prova de “alguém que sempre quis trazer os melhores para Portugal”, nas palavras do historiador João Ferreira. Que melhor cidade para ele viver do que a cidade dos estudantes?