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Da Imaginação à Realidade: D. Maria II

Da Imaginação à Realidade: D. Maria II

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Vamos pôr a imaginação a funcionar... como seriam as casas de alguns dos antigos monarcas portugueses, hoje em dia?

Criado por: Ricardo Santos Silva em 01 / 06 / 2021

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Os filmes nascem da imaginação, figura metafórica que tanto faz pelo ser humano, uma personagem ganha contornos na imaginação do seu criador e só depois ganha vida no papel do guião e de seguida na rodagem ou desenho de um filme. Trazemos ao Filmes e Cenas uma série de artigos que nos propõem imaginar. Vamos imaginar como seriam as casas de alguns dos antigos monarcas do nosso país. 


Como seria em 2021 a casa da menina brasileira que foi rainha de Portugal?


Três reis e uma rainha, quatro histórias de vida que nos ajudam a perceber melhor a história de um país. Neste artigo, vamos olhar para a personalidade e as principais marcas do reinado de D. Maria II, menina nascida no Brasil que, de um momento para o outro, se viu a governar Portugal. E que foi capaz de governar um país e uma casa com sete filhos com a mesma maestria. Mas que casa era essa?


O investigador e historiador João Ferreira, autor de vários livros sobre a monarquia portuguesa, ajudou-nos a entender os traços de personalidade de D. Maria II e a imaginar como e onde seria a casa da primeira e única rainha constitucional do país. O Imovirtual fez o resto, numa série que inclui outros três artigos, de três monarcas marcantes da história de Portugal: D. Afonso Henriques, D. Dinis e D. João V.


É difícil não colocar a maternidade no topo da história desta rainha, porque ela não foi “apenas” mãe. D. Maria II viveu e morreu pelos filhos, como a própria adivinhou no dia em que, avisada para o risco de tantos partos, disse. “Se morrer, morro no meu posto”. Assim foi.


A rainha teve o primeiro filho aos 18 anos e, até aos 34, passou por mais 11 partos. Uma vida de gravidezes. Ao todo, dos 12 bebés, sobreviveram sete. E no último, além do bebé, nem a própria Maria resistiu.


Não que não estivesse avisada. Os últimos quatro partos tinham resultado em nados-mortos. Numa carta citada no livro “D. Maria II - Tudo por um Reino”, de Isabel Stilwell, D. Fernando II, o marido, escreve que não foi o sofrimento e as dores a matar a esposa, “mas a fadiga e a fraqueza”.


“Creio que os seus numerosos partos enfraqueceram de tal forma o seu organismo que já não sentia nem mesmo contrações fortes e dolorosas”


D. Fernando II escrevia consternado à rainha Vitória, amiga e confidente de D. Maria II, para lhe dar a notícia da morte da mulher:


“O que tu não sabes, minha querida Vitória, era ao ponto que eu e ela éramos ligados. Estes grandes afetos, quando são estilhaçados, deixam uma vida triste e uma dor difícil de curar. Tenho os meus filhos, que amo tanto, e que são tão bonitos e bons, mas uma mulher que nos ama, nada pode substituir”


A vida de Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga (não, não há erro, é o nome completo da rainha), foi como o seu reinado: curta, mas intensa. Na descrição de Fernando Policarpo, que escreveu um livro sobre ela para a Academia Portuguesa da História, foi uma vida “extraordinariamente agitada e perigosa e, ainda assim, plena de tolerância e humanidade”.


Maria da Glória nasceu no Palácio de São Cristóvão, no coração do Rio de Janeiro, de onde jamais poderia imaginar que sairia para governar um país do outro lado do Atlântico. Tudo aconteceu muito rápido. Há quem diga até que os oito anos que a menina viveu no Rio foram os mais felizes da sua vida, uma infância rodeada de morros verdes e areias finas, que Maria nunca mais voltou a ver. Foram, pelo menos, os mais despreocupados, até que chegou à Baía da Guanabara a notícia da morte do avô, D. João VI, lá em Portugal, que lhe mudou irremediavelmente a vida.


Se pudesse, Maria teria feito como o pai, D. Pedro I do Brasil, que passou a infância em Portugal, andou pelas Américas, foi imperador brasileiro, e veio morrer no mesmo quarto em que tinha nascido, no Palácio de Queluz. Metade portuguesa, metade brasileira, D. Maria II teria feito o caminho contrário: nascida no Rio de Janeiro, governaria Portugal, até ter a missão cumprida para poder voltar à adorada e maravilhosa cidade, com a qual nunca perdeu a ligação, até porque o último imperador do Brasil foi o irmão, D. Pedro II.


E é por isso que, ao contrário do que parecem sugerir esses últimos anos de sofrimento, a vida de Maria da Glória no século XXI seria tudo menos infeliz, mas a de alguém com tempo de educar com primor sete filhos. Até porque, se fosse hoje, certamente essa tarefa seria partilhada com o marido Fernando. Sediada no Rio de Janeiro, a mulher-gravidez teria condições suficientes, para, também ajudada pela medicina, dar à luz 12 filhos saudáveis, aproveitando os períodos de gestação para longos passeios à beira-mar.