Patrick já estreou nas salas de cinema portuguesas. Numa altura complicada. Se é sempre complicado um filme português ter o seu espaço no cinema, ainda mais numa altura de pandemia e ainda mais no verão onde o cinema se enche dos blockbusters do tempo quente.
Mas Patrick está aqui para ficar, ou devia, devia ser visto por todos, não que eu queira mandar em alguém mas, se a minha opinião contar alguma coisa para ti (e a do Filmes e Cenas) então vai ao cinema ver este filme.
A história de um rapaz de 20 anos que se apresenta perante nós num clima de rave, drogas e decisões menos corretas e algumas completamente incorretas contrasta com a expressão da personagem brilhantemente interpretada por Hugo Fernandes, uma expressão de rapaz perdido, desprovido de alegria e felicidade que se passeia pelo mundo sem pertencer a um lugar.
Rapidamente se percebe que, Patrick, afinal é Mário, um menino que foi raptado da Sertã quando tinha 8 anos. Quando a polícia francesa contacta a polícia portuguesa e o inspetor regressa a Portugal com Mário começamos aí a assistir a um drama familiar e a um conjunto de emoções e ações que, talvez, não esperávamos que acontecessem quando se dá uma reunião familiar destas. A verdade é que, nem tudo são rosas, e se Patrick se sente deslocado por afinal ser Mário e passar a ter dois nomes, dois idiomas e duas formas de estar, também a família se sente estranha por ter ali aquele rapaz que é o Mário mas já não o é, ao mesmo tempo.
Gonçalo Waddington consegue dirigir o filme para deixar o espectador num tom de ansiedade, revolta, desconforto e, ao mesmo tempo, dá também a possibilidade de o espectador pensar por si, não dá a papinha toda feita. Para além de Hugo Fernandes, destaco também o papel de Alba Baptista, prima de Patrick que chega do Brasil para o ver e parece ser o porto de abrigo para esta nova vida e ainda a mãe, interpretada por Teresa Sobral, que é uma sombra do que já foi, destroçada por ter perdido o filho, e ainda mais destroçada pelo retorno do mesmo, não sabe para onde se virar, e também para a magnífica banda sonora composta por Bruno Pernadas.
Waddington trata aqui o tema das redes de pedofilia de uma forma diferente, uma abordagem mais humana e sem mostrar aquilo que não é preciso mostrar, deixando ao espectador essa parte. É um dos grandes filmes deste ano (embora já tenha sido apresentado em festivais no ano passado). É impossível ficar indiferente a este filme. Arrebatou-me por completo. Que estreia de Gonçalo Waddington como realizador!