Não é que o terror seja um dos meus géneros favoritos, mas de vez em quando vou vendo algumas obras que até me surpreendem pela positiva. Eu tenho dificuldades em “levar a sério” o terror, o que depois influência a minha experiência. Se não me assusta então qual foi o objetivo, não é?
A Maldição de Hill House estava a ser um sucesso no meu grupo de amigos. Até que pensei, bem lá terei de ver para saber o motivo de tanto aparato. Bom, a série tem de terror como de dramático, mas não é um terror sangrento, é um terror psicológico.
Começa com a história do simpático casal, Olivia (Carla Gugino) e Hugh Crain (Timothy Hutton), que no Verão de 1992 mudam de casa juntamente com os seus 5 filhos Steve (Michiel Huisman), Shirley (Elizabeth Reaser), Theodora (Kate Siegel) e os gémeos Luke (Oliver Jackson-Cohen) e Eleanor (Victoria Pedretti). Vão viver para uma mansão chamada de Hill House e o objetivo do casal é remodelar a casa por completo e vender.
A história é contada entre o verão de 1992 e a atualidade. Temos cenas da família na nova casa, cada um deles a descobrir cantos sombrios, e depois saltamos para a atualidade e percebemos que Olivia morreu.
Este é o primeiro sinal de que o verão de 1992 não foi bom! Viver em Hill House deixou marcas profundas e medos em todos os membros da família. E vamos conhecer todos esses traumas ao longo dos 10 episódios.
No final da temporada percebemos, que esses fantasmas e monstros são um reflexo deles próprios. Estas assombrações atraem os irmãos de volta à casa, que se alimenta deles, tal como aconteceu com a mãe deles. Parece que Hill House traumatizou a família para mais tarde atraí-los de novo lá e alimentar-se deles!
Mas não posso deixar de mencionar o que para mim foi o melhor da série. O quinto episódio é brilhante! É aqui que tudo muda e que a família começa a perceber a raiz das assombrações. Mas a personagem destaque é a de Victoria Pedretti, Nell Crain.
Neste episódio, que acho ser soberbo, existe um grande realce nos discursos profundos e existenciais e faz-nos até esquecer que estamos dentro de uma história de terror.
Surpreendentemente, não é o medo o principal condutor do terror, mas sim as poderosas personagens. Espero que não me entendam mal, há muitos momentos de horror que dificilmente vamos esquecer mas isto é nos entregue na complexidade das personagens e nas relações familiares que têm.
Malta, Hill House vive! Não tem coração, só estômago. Precisa de almas de quem lá vive ou viveu. É uma casa com vida e que se alimenta da morte.
Todos os momentos de terror são difíceis de esquecer. E é na complexidade das relações das personagens que Mike Flanagan conseguiu deixar-me com o coração acelerado e a dormir outra vez de luz acesa (ok, foi só uma noite).
Seja considerada terror ou drama, é uma das melhores séries que já vi!