Não sei muito bem o que dizer sobre este filme do realizador belga Bas Devos. Porque ao mesmo tempo que me pareceu muito vazio e com falta de um significado profundo, também há alguma coisa especial escondida por trás desta mulher que ele escolheu como guia do filme. Mas é isso que não sei explicar.
A mulher é Khadija (Saadia Bentaïeb), uma imigrante árabe que vive e trabalha em Bruxelas. Faz parte de uma equipa de limpeza corporativa no turno da noite. Quando termina o seu turno vai para casa, mas desta vez, deixou-se dormir no metro e falhou a saída. Vai ter de percorrer as ruas de Bruxelas durante a noite.
Há certos momentos que me fascinaram. A realização de Devos e a cinematografia de Grimm Vandekerckhove teve potencial para tornar o filme mais apaixonante, e de certa forma conseguiram. As ruas de uma cidade escondem segredos, e esta dupla consegue refletir essa energia, meio assustadora e meio encantadora.
Começamos com uma cena de uma sala iluminada que vai perdendo luz até ficar totalmente escuro. Depois conhecemos logo a mulher, que se prepara para ir para casa. E temos logo a ideia inicial de que o objetivo é retratar as mulheres que estão sempre expostas aos perigos da noite.
Portanto, para além de ser uma forma extremamente elegante de expor a complexidade da personagem também expõe as ruas de uma cidade adormecida.
No caminho acontecem várias coisas e cruza-se com algumas pessoas, mas é só na cena final, em que encontra a filha com outros amigos, é que eu senti que realmente ia acontecer algo de importante e com um significado. Mas não. Nada aconteceu e a mulher chega finalmente a casa e vai dormir. Passamos logo para a cena que mostra a sala, desta vez toda escura e com o tempo fica iluminada.
Parece-me que o realizador quis alertar-nos. Durante o caminho até casa, eu senti-me sempre em alerta, como se tivesse à espera de que algo fosse acontecer e por isso, temia por ela. Conseguiu com que eu entrasse no filme para fazer parte dele e caminhar junto da mulher.
Venceu-me porque me envolveu no filme e de uma forma tão simples que eu nem me apercebi. Mas por outro lado, não me deu significado. Sinto-o vazio.