The Nest

Este "O Ninho" é algo que já não esperava encontrar este ano no cinema. Uma estreia que me surpreendesse de verdade, que me fizesse juntar este filme à lista dos melhores filmes que já vi. Sean Durkin esteve 9 anos a pensar e realizar este filme e esse árduo trabalho teve frutos, e que frutos senhores e senhoras.

O filme conta a história de como um empresário da área das finanças inglês vive nos Estados Unidos da América, onde tenta aproveitar o sonho americano e a falta de entraves à criação, sonhos e ambição para enriquecer e ser um homem de sucesso. Quando surge a oportunidade de voltar a Londres para um melhor trabalho, com mais salário e mais estatuto, ele não hesita em convencer a família a mudar-se. Ao chegar a Londres, primeiro do que a família, ele compra uma enorme mansão que vai ser então o ninho desta família, um ninho novo mas com os hábitos de antigamente. Um ninho onde este personagem, Rory O'Hara, se apoia para levar uma vida de mentiras, falsas modéstias, pretensões que ele acha necessário ter para conseguir uma vida no estatuto social que sempre desejou. 

Enquanto Jude Law desfila num papel que preenche muito bem, com uma performance forte, um discurso brilhante e um charme que já conhecemos e bem deste ator, é Carrie Coon que me surpreende. A mulher de Rory que Coon interpreta é de uma força impressionante. E o realizador usa muito a força desta personagem para fazer o filme avançar, para mostrar como o leve lençol de emoções que cobria o início do argumento, começa a tornar-se denso e pesado, isto nota-se perfeitamente na cena em que, numa festa, ela percebe que as razões que o marido tinha apontado para a mudança de emprego (e consequentemente de país) não eram aquelas que ele lhe tinha comunicado, e nesta cena, enquanto ouvimos esta descoberta de mentira, a câmara está centrada na expressão facial de Allison (Carrie Coon), o que eleva a cena a um grande nível.

Todo manejo da câmera por parte de Durkin é de louvar. Aquilo que ele faz com alguns zoom ins bem lentos é espetacular e fica mesmo na memória, é uma linguagem visual fenomenal. 

E depois, os pormenores... O filme está cheio de pequenos pormenores que me deliciaram. A forma como Rory leva o café a Allison sempre numa caneca igual, mas nas diferentes casas por onde passam e, mais importante, no fim do filme quando as cadeiras da mesa de pequeno almoço são iguais às do pequeno almoço que abre o filme. 

É um grande trabalho de Sean Durkin e um dos melhores filmes de 2020. Está mesmo bem realizado e mexe com um tema, o da segurança familiar e a pressão do emprego, difícil e capaz de arrepiar muita gente.