Cães Danados

Decidi voltar a ver o meu filme preferido do Tarantino. "Cães Danados" é uma obra prima e apanhei-o na TV e tive que voltar a relembrar o porquê de ser o meu preferido e de ser uma obra prima. E comecei a lembrar-me do porquê logo na cena inicial. Desculpem, mas uma cena longa que mostra um diálogo em que se discute letras de músicas da Madonna com a câmara sempre a rodar pelas costas daquela malta que está toda sentada à mesma mesa é uma excelente forma de começar um filme de forma calma e cómica para depois entrarmos numa montanha-russa de tensão, ação e violência. Aqui nesta cena nota-se um pequeno erro, a barbicha que Mr. Brown tem desaparece durante breves segundos para depois voltar a aparecer.

Para quem me está a ler e não sabe, este foi o primeiro longa-metragem de Tarantino e estreou em 1992. O filme é sobre um grupo de ladrões que está a planear e vai executar um assalto a uma joalharia e, é aqui que fica interessante, o assalto nunca aparece no filme, só o pré e o pós. E isso para mim é fenomenal. Fazer um filme à volta de um assalto mas no qual o assalto não aparece é uma grande ideia e difícil de executar mas que aqui está muito bem feito. 

Vou começar já por falar da cena em que Madsen nos premeia com uns belos pés de dança. Com uma mostra da excelente banda sonora que este filme tem, Mr. Blonde, dança enquanto saca da sua navalha de barbeiro para começar a torturar o polícia que raptou, esta cena é memorável e história porque vemos violência, alegria, arte, dança, tudo. 

O filme passar-se quase todo naquele armazém mas depois é brilhantemente pincelado com as apresentações de todos os "mrs" em analepses que nos vão dando contexto para a história. Aqui reparamos que Mr. Blonde chama-se, na verdade, Vic Vega que é o irmão de Vincent Vega, personagem de Pulp Fiction. Nestas apresentações a que mais se destaca é a de Mr. Orange por todas as referências ao "Quarteto Fantástico" e o póster do Surfista Prateado. Há outro momento em que Mr. Orange (Tim Roth) eleva o filme a um grande nível, quando ele está a ensaiar o guião para a história que supostamente viveu. A forma como o cenário vai mudando à medida que a história vai avançando até aquela cena na casa de banho com os polícias e o pastor alemão que é ótima.

É-me difícil trazer-vos erros neste filme, acho-o uma verdadeira masterpiece e não vou escavar à procura de coisas menos boas quando durante todo o filme estou sempre maravilhado com tudo o que se está a passar diante dos meus olhos. Conseguimos ver como Steve Buscemi é bom ator e capaz de fazer coisas boas para além daquelas comédias duvidosas. 

É um filme genuinamente diferente para a altura em que foi lançado e inspirador para muita coisa que foi feita depois, é uma obra prima.