Chungking Express

Antes de tudo, deixem-me contar-vos uma curiosidade:

Chungking Express foi produzido em apenas 23 dias!! Ah, pois é!
Em 23 dias nasceu um dos melhores filmes que eu já vi. Está tudo certo, tudo!

“Se o amor tem prazo de validade, então que dure dez mil anos.”

Foi no Leffest’20 que tive oportunidade de ver pela primeira vez a obra-prima de Wong Kar-Wai e também foi assim que descobri que este realizador é um dos mais líricos e românticos que conheço!

Assim muito rapidamente, Chungking Express traz duas histórias de amor, que, ironicamente, começam por causa de amores que partiram corações. São dois polícias de Hong Kong e ambos terminaram o seu relacionamento amoroso e agora estão a tentar “sobreviver”.

O polícia 223, He Zhiwu (Takeshi Kaneshiro), é o primeiro. Depois de ter o seu coração despedaçado, conhece a criminosa, Ching-Hsia Lin (Brigitte Lin) durante uma noite num bar.

He Zhiwu é uma personagem bastante engraçada. Rouba-nos alguns sorrisos e gargalhadas, não por ser um comediante, mas porque o seu jeito “meio tonto, meio apaixonado” conquista-nos. Até porque, este polícia usa a validade das latas de ananás para comparar com a validade do seu amor pela ex-namorada. Parece-vos estranho? Para mim, é genial. Não vou explicar… vale a pena perceber no filme.

A segunda história de amor é sobre o polícia 663 (Tony Wai Leung), que conhece Faye (Faye Wong), num café de rua. Faye, depois de perceber que o polícia está solteiro há pouco tempo, começa a tentar aproximar-se dele. Até que, vai várias vezes à casa do polícia, sem este saber, e começa a mudar várias coisas. Quase numa tentativa de “cuidar dele” sem que este saiba.

Estas duas histórias apaixonantes são acompanhadas de muita cor, peluches, divertimento e música, mas música que fica no ouvido. “California Dreaming” é uma das que passa imensas vezes no filme e, dentro da cena que estamos a ver no ecrã, dá-nos vontade de dançar. O meu pé não parou durante quase 2 horas.

Às vezes, tudo o que estamos a ver parece irónico, mas com o tempo e à medida que vamos conhecendo a profundidade das personagens, percebemos que tudo é de uma grande sinceridade e fiel à realidade humana. Aqui, não há clichés amorosos.

Na verdade, o que eu vi naquela tela foi poesia no seu estado puro. Em que eu desejei que fosse a minha história porque, honestamente, identifiquei-me com tudo o que se passou em Chungking Express.

O que é ainda mais contagiante nesta história são algumas características dos personagens que são muito bem representadas. Como por exemplo, a solidão. Ambos os polícias têm momentos realistas de como funciona a solidão.  

Mas, as personagens do filme nem são as mais importantes, a cidade é o centro deste filme. Visualmente, Wong Kar-Wai dá-nos um filme lindíssimo, pintado por toda a essência de Hong-Kong.  

Arrisco-me a dizer o realizador fez aqui uma bela comparação entre a cidade e o amor: rápido, frenético, louco, brilhante, intenso e colorido. Chungking Express também é tudo isto e muito mais.